sexta-feira, 8 de maio de 2009
Bendita louvada seja Dona Maria do Horto
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Um Lero com Silvio Tendler
Na VI Bienal da UNE, bati um lero com Silvio Tendler. O cineasta e professor da PUC-RJ, especialista em cinebiografias políticas, participou da abertura do evento, apresentou seu filme Josué de Castro – Cidadão do Mundo, ainda contribuiu com um bate-papo sobre cinema brasileiro.
Entre os principais trabalhos de Tendler estão Os anos JK, Jango, Glauber - o labirinto do Brasil e Encontro com Milton Santos. Assunte só o que ele me falou...
Por que a opção pela cinebiografia?
Porque quando eu estudei cinema documentário, estudei com um documentarista, o Joris Ivens, que dizia que o cinema precisa de personagem no documentário, à semelhança da ficção. Não fale de um tema em abstrato. Se você quer falar de democracia, fale de JK; se você quer falar de justiça social, fale de Jango; revolução, fale de Marighela; arte revolucionária, fale do Glauber. Então, eu aprendi esta lição com ele e estou fazendo isso. Eu acho que eu poderia falar da democracia como uma abstração, mas, falando do governo JK, estou falando de um momento do Brasil que a democracia funcionou. Eu poderia falar da justiça social, mas, falando do Jango, eu estou falando da justiça social, de reforma agrária, uma série de coisas que funcionaram. Então, é nesse sentido que eu acho que você deve ter personagem. Aí, o filme biografia funciona no sentido de trabalhar uma temática, tendo um personagem como fio condutor.
Há um consenso entre vários biografistas de que é muito mais fácil se biografar alguém que já morreu. Nota-se também que em sua obra existe a predominância de personagens mortos. Você tem isso como preferência?
Não é questão de preferência, é questão de coerência. Como a maioria do meu trabalho é de reconstrução de história política, tenho cuidado de não confundi meu trabalho de historiador com o de propagandista. Você faz um trabalho político de um cara que está vivo, você pode estar se confundindo com a meta de seu trabalho: a minha meta é contar história ou elegê-lo? Eu preciso trabalhar em cima de personagens mortos. Agora, eu não me furto a fazer campanhas políticas desde que eu tenha convicção. Eu fiz o primeiro programa nacional do PCB, fiz o primeiro e o segundo [programa] nacional do PSB, na época da constituinte. Ajudei a interferir na construção de uma constituição democrática. E, já fiz personagens vivos também, mas eram artistas. Fiz [o filme biografia] da [Maria] Antonieta, uma mulher que ensinou o Rio de Janeiro a dançar. Ela está viva até hoje e esse filme tem mais de dez anos. Não é que eu não faça, eu escolho o tema para fazer.
Você, algumas vezes, fez filmes a convite. Como é o caso do Josué de Castro, feito a convite da família dele, e os filmes sobre a UNE [Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil e O afeto que se encerra em nosso peito juvenil] que foram a convite do Projeto Memória do movimento estudantil. Esses convites, de certa maneira, lhe tolhem?
Nunca tive nenhum tipo de constrangimento de, na hora final, disserem “isso pode” “isso não pode”. Nunca fiz filme que corresse o risco de sair com a cara da encomenda e não com a cara autoral. Isso é uma questão discutida antes de o filme começar a ser feito. A gente senta, olho no olho, e discuti o que quer fazer com aquele filme.
Já negou algum convite?
Muitos. Uma vez, eu recebi o convite de um banqueiro. Eu recebi o telefonema de um preposto de um banqueiro – não foi ele quem ligou pessoalmente – perguntando se eu topava fazer a biografia dele [o patrão]. Eu falei: “primeiro eu tenho de estudar a biografia dele, para ver se não tem nenhum ato na vida dele que desmereça. Se tiver, não. Mas, se não tiver, vamos lá. Aí, começou: “Você sabe, tem de ser um filme baratinho, não tem muito dinheiro”. Eu falei: “Meu amigo, eu vou trabalhar baratinho para banqueiro!?Desculpe, tem algum engano”...
Você tem um projeto de filme [Utopia e Barbárie] sobre sua geração, de 1968. Numa entrevista a Paulo César Pereio [no Sem Frescura, do Canal Brasil], você disse que tem preferência pelo tempo presente. Ao trazer à tona o ano de 1968, você acha que o jovem de hoje tem mais o que aprender com aquela geração ou tem de começar uma nova forma de revolução?
Eu aprendo muito mais com o jovem de hoje do que com minha geração. Acho que o resgate histórico sinaliza o futuro. Eu não faço um cinema com nostalgia, com saudades do passado. Não tenho nostalgia, não tenho vontade de viver no tempo do Josué [de Castro]. Tenho vontade de dizer o que o Josué fez e o que é importante que as pessoas, hoje, façam. Não tenho desejo de voltar ao passado. Nenhuma saudade, do ponto de vista de 1968, e nenhuma vontade de ser o general condecorado pelas batalhas de 68. Eu sou uma pessoa que vive meu tempo presente, voltado para o futuro. Eu trabalho do ponto de vista da reflexão. Outro dia, eu estava lendo uma entrevista que eu fiz com um professor meu, um historiador, na qual ele dizia que a história trabalha no ponto de vista da reflexão. A reflexão física também. É aquele raio que bate no espelho e se projeta para o futuro. Você não fica voltado, olhando para historia, com saudades. Eu olho para 68 e digo: “Nós éramos libertários, mas, hoje, estamos num mundo, excessivamente, careta. Vamos trazer um pouco dessa anarquia, dessa rebeldia, e vamos projetar, na vida de hoje para o futuro”. Acho que a vida hoje é bem melhor que no meu tempo.
Você já fez dois documentários sobre a UNE, em comemoração aos 70 anos da entidade. Desta Bienal, você levará mais imagens para um terceiro trabalho?
As moças estão cada vez mais bonitas. Se eu pudesse fazer um documentário poético, eu faria.
sábado, 24 de janeiro de 2009
A ciência popular por Dona Maria Gorda
Além de rezar, Dona Maria Gorda é uma exímia conhecedora de plantas medicinais. Fabrica artesanalmente beberagens com ervas, a partir da “horta medicinal” que cultiva no quintal. Os remédios são conhecidos e aprovados pela Comunidade do Candeal, bairro onde mora há mais de 40 anos, e por adeptos da fitotepia que chegam de outras freguesias.
Ninguém em minha casa quer aprender. Tenho duas filhas que já sabem rezar, mas só de “olhado”. Mas não quer rezar de mais nada, nem quer continuar a rezar de olhado porque ela diz que não tem pique pra isso. Às vezes, tem pessoas que eu pego e me deixam abalada. Ontem mesmo, rezei uma criança e passei mal depois. Me dar calafrios, me dar moleza, essa coisa toda. Então, elas dizem que não estão prontas para isso, não querem. Mal elas rezam os filhos. Sabem rezar, mas, quando os filhos tão moles: “Minha mãe, reze”. Eu digo: “mas você não sabe rezar?”. “Mas minha reza eu não tenho fé, não. Só tenho fé na da Senhora”.
Sou católica. Não sou feita no candomblé, mas gosto do candomblé. Quando eu nasci, prematura de sete meses, minha avó era mãe de santo, entendia as coisas. Me botou de barriga para cima, botou de bruços, de lado... Então, ela disse: “Esta está preparada para o mundo! Quando ela crescer e fizer onze anos e quiser seguir, ela vai fazer a parte dela”. É tanto que eu não tenho medo de macumba, não tenho medo de bruxaria, não tenho medo de nada. Abaixo de Deus, eu não tenho medo de nada. Tem uma pessoa lá no Candeal, a única pessoa, de todos os lugares que eu já morei, que eu tive desavença por causa de filho. A pessoa fez de tudo para me derrubar. Botou macumba na porta. Lutou e não conseguiu, deixou de mão.